sexta-feira, 3 de junho de 2016

Jovem cadeirante de Jaguariúna vence limitação e sonha com Artes Cênicas na Unicamp

Apoio da família e dos amigos foram a força de jovem para vencer preconceitos (Foto: Arquivo Pessoal)Apoio da família e dos amigos foram a força de jovem para vencer preconceitos (Foto: Arquivo Pessoal)
"A minha força renasce todos os dias, quando levanto, olho para o céu e agradeço a Deus pela minha vida, porque não era para eu estar aqui". São essas as palavras da jovem Patricia Pompeu Paizam, de 28 anos, que nasceu de seis meses e teve que enfrentar, já no início da vida, os limites existentes para uma cadeirante. Em entrevista ao G1, a jovem fala da importância de manter-se firme e do sonho de cursar Artes Cênicas na Unicamp, universo que contribuiu na sua maneira de enxergar a vida.
A paralisia cerebral, por falta de oxigenação no cérebro em seu nascimento, comprometeu o desenvolvimento da jovem, que já chegou ao mundo provando que poderia superar qualquer obstáculo, começando por surpreender os próprios médicosque não acreditavam que ela sobreviveria por ser prematura.
Superação
Aos 13 anos, a jovem precisou lidar com a perda da mãe, outro obstáculo que Patricia aprendeu a superar com o tempo. "Senti que ia morrer junto com ela. Tive que ser forte e dar força para aqueles que estavam a minha volta. Não sabia que tinha essa força toda, mas Deus me deu isso e também coragem para enfrentar tudo junto com o meu pai. Ficamos sozinhos e demoramos para nos recuperar, mas conseguimos", afirma.
(...) não tinha porque eu ficar para trás, mas sim tentar ir para frente e continuar vivendo"
Patricia Paizam
E ainda completa com a forma que encontrou de lidar com as coisas: "Meu pai é a razão da minha vida e minha mãe não vai voltar mais, então entendi que não tinha porque eu ficar para trás, mas sim tentar ir para frente e continuar vivendo".
Patricia também fala de outra grande protagonista dessa superação, sua mãe de coração, casada com seu pai, Sandra da Silva Paizam, que desde o início cuidou da jovem. "Ela é uma mãe para mim, me reergueu. Se hoje estou viva e fazendo tudo o que faço, devo a Deus e a ela, por quem tenho muito carinho e admiração", afirma.
Exercícios da ecoterapia auxiliaram Patricia por 14 anos  (Foto: Arquivo Pessoal)Exercícios da equoterapia auxiliaram Patricia por
14 anos (Foto: Arquivo Pessoal)
A equoterapia, método terapêutico que auxilia no coordenação motora, com elementos da natureza e uso de cavalos, foi o tratamento encontrado para melhorar a saúde da jovem, praticado por 14 anos.
As sessões eram feitas no Centro de Equoterapia de Jaguariúna, uma organização não-governamental que oferece gratuitamente este tipo de terapia. As aulas auxiliaram Patricia em seu desenvolvimento físico.
Antes do tratamento, a jovem dependia 100% de ajuda de alguma pessoa para fazer qualquer movimento. Depois do procedimento, algumas necessidades do dia a dia passaram a ser feitas por conta própria.
Apesar disso, devido lesões na coluna, os exercícios precisaram ser interrompidos. Foi no teatro que Patricia encontrou um novo desafio e paixão. As aulas na Escola das Artes de Jaguariúna trouxeram mais autoconfiança, o que resultou na perda da timidez.
"Sou outra pessoa agora, penso diferente. Costumava pensar muito em mim, mas já sou mais aberta a outras coisas, não sou mais fechada para o mundo como eu era antes", diz Patricia.
Força de vontade
Segundo Patricia, a vontade de entrar para o teatro surgiu ainda na escola, durante o colegial. Já a verdadeira paixão veio durante os seis anos em que trabalhou como segurança na maternidade do Hospital Walter Ferrari, em Jaguariúna (SP). A época trouxe para a jovem um grande contato com crianças que, segundo ela, sempre fizeram bem para sua vida.
Segundo jovem, amor e apoio da família sempre foram essenciais  (Foto: Arquivo Pessoal)Segundo jovem, amor e apoio da família sempre
foram essenciais (Foto: Arquivo Pessoal)
"No hospital, me deparei com muitas crianças, e então pensei: 'Porque não fazer algo para ajudá-las de alguma forma? Algo onde eu possa retribuir todo o carinho que eu recebo?'", revela.
A jovem quer trabalhar de forma voluntária, principalmente em hospitais. O objetivo de cursar Artes Cênicas é devido querer animar a vida de cada uma delas.
"O que mais me encanta nesse mundo das artes são as crianças, o olhar delas. Você trabalha ali com a emoção, vê a criança te olhar com admiração e isso me encanta muito. Foi no hospital que essa paixão despertou em mim e quero fazer isso pela vida toda", afirma.
Preconceito e apoio do pai 
Segundo a jovem, o preconceito sempre foi grande, já que a maior parte das pessoas nunca acreditaram em seu potencial. "Nunca acreditaram que eu conseguiria fazer o que estou fazendo agora. O que faço hoje para essas pessoas é uma surpresa. Para mim não, nem para o meu pai, que sempre acreditou em mim. As pessoas que não me conhecem acham que não tenho capacidade, me acham diferente", diz.
Ao lado do pai, Jesus Paizam, com quem Patricia tem uma forte relação de companheirismo  (Foto: Arquivo Pessoal)Segundo o pai, sonho da jovem é ajudar crianças
através do teatro (Foto: Arquivo Pessoal)
Jesus Paizam não poupa elogios para a filha. Para o servidor público, o teatro transformou Patricia, que serve de inspiração para muitas pessoas que estão a sua volta, inclusive para ele.
"Me sinto realizado ao vê-la fazendo o que gosta. É um orgulho ver ela alcançando seus sonhos, porque muita gente não acreditava. Ela pode e consegue sim. Fico feliz de vê-la alegre com as coisas", afirma.
Além da alegria pela filha, o que não falta é o apoio. Jesus afirma que está ciente do bem que a oportunidade em estudar na Unicamp pode trazer para a jovem: "Vai ser muito bom para ela, é o que ela quer para a vida e eu ajudo como posso. Patricia se encanta com o teatro, é o que sempre quis fazer e teve vontade, então eu a apoio", diz.
O pai também falou da inspiração que Patricia passa para todos a sua volta. Segundo Jesus, o telefone toca durante a madrugada com pessoas pedindo para que ela faça orações, devido a grande fé que tem. "Admiro tudo na Patricia, tenho orgulho dela. Ser seu pai é uma missão que Deus me deu e eu tenho que tratar isso com muito carinho. Ela carrega uma força divina, as pessoas sentem isso e ligam para ela pedindo orações, até de madrugada. Ela reza e ajuda muita gente e as pessoas têm muito carinho por ela, sabem que a força dela vem de Deus", afirma.
Segundo jovem, amigos apoiam seu sonho e a ajudam durante as aulas  (Foto: Christiano Gomes )Segundo jovem, amigos apoiam seu sonho e a
ajudam durante as aulas (Foto: Christiano Gomes)
Aos olhos do professor 
"Em 17 anos de teatro, nunca me deparei com uma pessoa tão especial". É o que afirma o professor de teatro da Escola das Artes, Vitor Manzoli, local onde Patricia faz as aulas de teatro. Segundo o profissional, as artes, em geral, tiveram grande interferência na mudança de Patricia, que já se apresenta nos palcos e emociona a plateia.
"É surpreendente o jeito que ela mostra seu desenvolvimento, tanto na aula, quanto na vida. A família conversa comigo e diz que ela melhorou muito, uma pessoa que não conversava antes com ninguém, agora conversa com todos. O que mais me tocou foi que, em uma conversa, ela afirmou querer fazer teatro justamente para quebrar esse preconceito de que pessoas que usam cadeira de rodas não podem fazer nada".
O professor ainda admite que a força de vontade da jovem não ajuda apenas ela, mas como todos que estão a sua volta, inclusive a ele.
"Ela mudou a minha visão do que é fazer teatro. Faz 17 anos que estou nesse mundo e nunca me deparei com uma pessoa como a Patricia, com uma força de vontade enorme de fazer acontecer, de querer estar no palco (...) Se eu pudesse definir em uma palavra o que a Patrícia passa para mim, seria emoção. Sei que ela é uma pessoa que não vai desistir tão fácil dos seus sonhos", afirma.
Sei que ela é uma pessoa que não vai desistir tão fácil dos seus sonhos"
Vitor Manzoli
Unicamp 
O sonho de estudar Artes Cênicas na Unicamp continua sendo o foco de Patricia, que quer prestar o vestibular ainda este ano. A vontade de investir na meta é grande, mas a dificuldade para se locomover até o local da prova, devido necessidade de um veículo especial, é o que faz a jovem planejar a longo prazo.  Apesar disso, Patricia segue firme em seus objetivos.
"No curso de teatro sinto uma emoção muito grande por estar realizando um dos passos para alcançar o sonho da minha vida. Eu acredito que posso conseguir me formar em teatro, quero começar a estudar de novo para me preparar", diz.
Patricia sabe que tem o apoio da família e dos amigos, principalmente do pai, seu primeiro incentivador. Apesar dos obstáculos e de tudo o que já enfrentou, sabe que tem força o suficiente para lidar com os próximos que surgirem. "Minha motivação é saber que Deus me deu uma oportunidade de vida, já que nasci apenas de seis meses, a minha vida é um milagre, é daí que vem a minha força".
Segundo professor, jovem se dedica em todas as ulas e se tornou mais comunicativa (Foto: Vitor Manzolli )Segundo professor, jovem se dedica em todas as aulas e se tornou mais comunicativa (Foto: Vitor Manzoli)


FONTE É CRÉDITO .
http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2016/06/jovem-cadeirante-vence-limitacao-e-sonha-com-artes-cenicas-na-unicamp.html

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